quinta-feira, 4 de outubro de 2007

ARQUITETURA

De vez em quando eu vou pra varanda fumar um cigarro. É bonzão ficar lá fumando um cigarrinho e pensando na vida, nas coisas, nas pessoas, nos meus amigos, nele, naquele e em todos esses caras que deixam a gente de quatro, sem fôlego nem vontade de parar.
Sempre fico lá observando as janelinhas dos outros prédios. À noite cada janelinha é um quadradinho amarelo que a fumaça se encarrega de transformar em mistério.
Na noite passada fiquei lá pensando nos meus amigos, só neles, foi tão bom. Parecia que eles tavam lá comigo fumando também e falando besteira. Cada trago era uma besteira que alguém falava e me fazia rir, rir pra caralho, que nem uma hiena mongolóide.
Também tem vezes que eu fico lá sozinha, só fumando e peidando, é tão bom. Não tem ninguém pra olhar pro lado e te acusar com olhos condenadores de “caralho, foi tu que peidou né, ta que pariu... que mala”. Não, não tem. Nada disso existe na minha varanda. Sou só eu, a fumaça, os tragos e o gostinho de creme que uma amiga me mostrou; só isso. Mais ninguém pra me acusar ou cobrar nada, muito menos pra ficar me falando um bando de coisa inútil... Putz. Não sei pra que tanta social se eu posso ficar aqui, na minha varanda em paz.
Tem gente que fica catando gente na internet; eu prefiro imaginar os caras aqui, na minha varandinha. É tão agradável. Aqui acontece tudo, a gente troca sorrisos, fala besteira, fuma junto, conta piada, xinga pra caralho e beija, beija até dar vontade de trepar. A minha varanda é tudo, cara, tudo. É a Lapa, é os meus amigos na sala, é um quarto de motel, é um cara falando uma porção de clichezada romântica pra mim enquanto eu rio por dentro e me seguro pra não soltar um comentário sarcástico-escroto. É tudo isso. É a minha solidão tentando fazer de mim alguma coisa. Sou eu me entregando a ela sem um pingo de medo. Sou eu mandando ela vir, se sentar do meu lado e acender um cigarro também. É tão bom ter uma companhia pra fumar, cara. Tem vezes que nenhuma companhia é melhor que ela, a porra da solidão, por mais que ela tente nos queimar com o seu cigarrinho fedido.
Seja lá onde eu morar no futuro, quero que a minha casa sempre tenha uma varanda. Mas se não der pode ser um quintalzinho também.