quinta-feira, 3 de julho de 2008

Espuma em Neve

Lavar a louça é uma coisa engraçada, eu sempre fujo, deixo pra depois, digo que vou dar um pulinho na vizinha e “quando eu voltar eu lavo sem falta”, adio ao máximo até não dar mais, até a caldeira de feijão que fica de molho com água e detergente começar a feder horrores e exalar aquele cheiro de podre que ninguém sabe da onde vem e me faz trocar o saco da lixeira umas três vezes num dia só, por mais que ela nem esteja cheia até a boca.
Então comigo é assim mesmo, eu prorrogo, enrolo, deixo sempre pra mais tarde. ‘Não vai lavar a louça não?” “Peraí que eu to terminando de fazer um negocinho aqui no computador, já vou”. E aí lá pra meia-noite é que eu começo a lavar a louça, quando não dá mais pra evitar, é que eu encaro a tarefa, mas não com tanto nojo e horror quanto as outras pessoas que detestam ter que encostar no prato todo cagado de algum molho e limpar aquele ralinho “nojento” cheio de resto de comida. Eu não, só de sentir aquele cheirinho de detergente já me animo, principalmente se este tiver um cheiro forte como os detergentes de limão e maçã. Ai, eu não resisto, adoro, é como se eu tivesse usando um desinfetante bem forte pra limpar tudo.
Eu não costumo contar isso pra ninguém não, porque não quero que ninguém fique pensando que eu sou Amélia ou tenho vocação pra tal, principalmente aquelas tias fofoqueiras puxa-sacos que me vêem fazendo isso e falam logo “olha que beleza de menina, já pode casar, minha filha”, o que me faz pensar “deus me livre casar com essa idade” e respondo logo “casar não, tia, morar sozinha, eu vou é lavar louça pra mim, não pros outros”.
Mas não tem como negar, o serviço sujo é comigo mesmo: lavar bem os pratos, esfregar a esponja encharcada de detergente no prato e ver aquela espumarada saindo pelos lados, deixando o prato bem espumado, bem limpinho, praticamente desinfetado.
Tem vezes que a esponjinha tá seca e mesmo eu despejando bastante detergente nela, ela não faz espuma direito, mal consigo sentir aquele “espatchi, espatchi” quando aperto com vontade pra ver a espuma sair braquinha por todos os lados. Aí eu vou e aproveito o filete de água que cai da torneira e roço a parte amarela dela na bica pra deixar tudo mais molhadinho e fácil de lavar.
Às vezes, quando despejo detergente na esponja e aperto um pouco ela pra ver se tá com sabão suficiente pra lavar os copos e tirar bem a gordura e as marcas de batom, vejo aquela espuma grande, densa e grossa surgindo do nada, bem rápido e hmm, me dá uma vontade de morder aquela esponja fofinha, cheinha de espuma e sabão, “hmm, que espuminha e que esponjinha gostosa!”.
Quando eu era criança eu fazia isso durante o banho. Mordia a esponja e mordia com força, era tão gostoso. Durante o banho eu esfregava bem o sabão na esponja molhada, apertava pra fazer se já tava produzindo espuma e mordia com gosto “ah como era bom, puta que pariu!”. Eu nem me importava daquela espumarada toda transbordar da esponja e entrar na minha boca, não tinha problema porque era uma delícia morder com força a esponja e sentir aquela sabãozada em forma de espuma enchendo a minha boca. E além do mais, eu ficava com a boca limpinha, com gostinho de sabonete lux ou qualquer outro que eu estivesse usando no momento. Muito bom!
Lavar a louça é a melhor limpeza que tem, não existe igual. Escovar os dentes, esfregar bem o chão com a vassoura pra lavar o banheiro e a cozinha, lavar roupa e outras paradas também são boas porque produzem bastante sabão, mas nada se iguala a lavar louça. É tão bom que tem vezes que dá vontade de pegar a esponja, entupir de sabão e sair esfregando a casa inteira, como se as paredes fossem uns pratos enormes e as janelas grandes copos de vidro e os azulejos do banheiro e da cozinha, louças de porcelana. Ui, ui, delícia!
Sabão, sabão, sabão... Espuma, espuma, espuma... imagina uma grande cachoeira de espuma? Hmm, e quando o frentista do posto resolve dar uma lavadinha nos vidros do carro? Ele pega aquele chumaço gigante de esponja e sai esfregando tudo. Eu fico lá dentro do carro só assistindo, me deliciando por dentro... ai, que inveja do frentista, queria tanto que fosse eu que estivesse lavando os vidros... é tão delicinha fazer isso...