quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Ele disse "foda-se"
E ela se fodeu toda.

Ele disse "foda-se"
E eu me fodi toda.

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Pele Acneica

Tinha o rosto todo furado pelas milhares de espinhas e cravos espremidos durante a adolescência, mas não se importava. Pra dizer a verdade até gostava, carregava aquelas marcas como cicatrizes de uma vida intensa.

Cada espinha estourada, cada pléquite que ouvia quando a espinha rasgava a pele e saía como um jato espirrando todo o pus no espelho, cada cravo que saía como uma minhoca apressada que fugia da jaula do rosto... cada massinha amarelada que jorrava da sua pele era uma libertação e uma delícia... ah, era uma delícia, não tinha como negar. Que delícia que era espremer aqueles trequinhos que volta e meia apareciam no seu rosto banhado de óleo. Não podia viver sem espremê-los porque adorava aquilo, necessitava daquilo e dava graças a deus por ter aquela pele bem oleosa. Sabia que se não a tivesse seria pior, uma tortura muito maior. Teria que sair por aí espremendo a cara das pessoas na rua ou dos seus amigos, deixando-os irritados e causando uma confusão danada.

Sabia muito bem que teria sido assim porque na época em que tinha se sentido feia e resolvera ir ao médico regularmente para fazer um tratamento sério para acabar logo com aquilo implorava aos amigos para deixá-la espremer aquele cravinho na testa que, segundo ela, estava enfeiando seriamente o rosto deles: “tá horrível esse cravo, tá uma coisa preta enorme na sua testa”. Fazia tudo o que podia, o drama que fosse, para convencê-los, o que algumas vezes acabava terminando em “porra, garota, pára com essa porra, caralho. Não enche o saco.”

Tinha consciência de que aquilo era de uma inconveniência sem tamanho, mas o que podia fazer? Não conseguia se controlar para não espremer os cravos alheios, pois, quando os via, precisava matar aquela vontade que não mais podia ser satisfeita sozinha, por ela mesma, no próprio rosto, já que este se encontrava limpo, alisado e esticado pelos milhares de sabonetes, cosméticos e cremes que passava diariamente, sem contar os antibióticos que sempre se esquecia de tomar.

Então, depois de sérias brigas e discussões com seus amigos que a julgavam retardada e não a entendiam de jeito nenhum resolveu parar o tratamento e voltar a ter a sua velha e boa pele acneica.

Tudo bem que às vezes se sentia um pouco feia e até lhe batia um remorso ao se olhar no espelho e ver a pele toda fudida. Mas o que podia fazer? Não conseguia evitar.

Mas segundos depois desencanava de tudo. Era o que ela escolhera. Realmente não podia fazer nada. Pra dizer a verdade nem queria.

Além dos mais, pra que serviam aquelas maquiagens todas que a cosmética não parava de inventar? Pra que se investia cada vez mais em pesquisas tecnológicas voltadas pra estética?
Era exatamente pra isso, porra!

Ah e por falar em maquiagem! “Menina, comprei um blush em creme que nem te conto, é uma beleza, não quero outra coisa da vida agora! E por sinal já ta acabando e eu tô ficando desesperada, tenho que comprar outro logo.”
Eu preciso fazer alguma coisa. Não dá pra passar a vida toda em casa, comendo e peidando, não dá. Eu preciso fazer alguma coisa. Só ainda não sei o que, mas eu vou descobrir, ah se vou.

domingo, 2 de dezembro de 2007

Solidão é fazer um panelão de farofa e não ter ninguém pra comer junto.