quinta-feira, 1 de maio de 2008

Coisa de momento

Eu e meu avô íamos conversando enquanto assistíamos “Qual é a música?”. Eu reclamava do Sílvio Santos, perguntava pro meu avô como é que ele podia assistir aquilo tendo tanta coisa mais interessante pra ver na net. Ele dizia que não ligava pras outras coisas, que ele gostava de net só pra ver mesmo o futebol.
Eu também não entendia como é que o Sílvio Santos podia ser tão rico, ganhar tanto dinheiro dando uma de papai Noel e distribuindo dinheiro pra todo mundo. Quem tava na platéia saía de lá pelo menos com uns cinqüentinha no bolso. Meu avô me dizia que o grande negócio era o carnê do baú, aquilo é que dava mesmo a grana, além, claro, de todas as outras parafernalhas lucrativas como os comerciais de tevê e tal. Então a gente ia conversando enquanto tentava adivinhar de vez em quando qual era a música ou ria das presepadas toscas do Sílvio Santos, que se achava muito.
Só que de repente, deu-se um silêncio súbito. Ele parou de falar e eu também me calei, cogitando se eu contava ou não pra ele o que tinha acontecido. Só que o silêncio e a falta de assunto já tavam me deixando sem graça. Além do mais, era melhor contar logo do que ser descoberta, logo o cheiro começaria a se espalhar pelo ambiente e me denunciar: “Ah, vou contar sim, foda-se.”
- Vô.
- Hein?
- Peidei, tá?
- Pô, Carolina, sua porca! Você não tem mais o que fazer não?
- Ah, vô, não é culpa minha não, foi o feijão.
- Pô, vê se maneira no feijão né, Carolina. Come menos pô.
- Ai eu não consigo, feijão é muito bom.
De repente o meu avô põe a mão no nariz e fala com a mão abafando a voz:
- Cassetada! Agora que eu senti. Tá podre hein! Urubu, comeu carniça?
- Não, só um feijãozinho. – respondo rindo.
- Pô, vai pro banheiro, sua podre. Quer me matar aqui?
- Vô?
- .... (Nenhuma resposta do meu avô, que já tava puto)
- Vô, você é tão certinho que nem peida, né?
- Não, senhora, negativo, não vem com esse papo não. – responde ele indignado- Eu não fico fazendo essas faltas de educação na frente dos outros não, lugar de peidar é no banheiro. Ninguém é obrigado a ficar sentindo o cheiro das minhas ventosidades não. Lugar disso é no banheiro. Não sou que nem você não, porca.
- Ah, vô!
- Ah, vô uma conversa. Vai soltar suas ventosidades lá dentro vai.
- Não, vô, já parei. Não briga mais não.
- Eu hein, me admira você, uma moça, ficar fazendo essas coisas.
- Ih, vô, que frescura, mulher também peida, você é que pensa que não.
- Não é nada disso.
- É sim, vô. Pô, não vê a minha avó? Quando começa, caraca, sai de baixo, ela impregna o ambiente. Ainda mais que ela fica a noite inteira vendo televisão e comendo besteira.
- Não fala assim da sua avó não, vamo mudar de assunto.
- Ah... tá.