terça-feira, 13 de maio de 2008

Ela tinha o batom borrado
A boca cheirava a porra
Tragava o cigarro com vontade
A saia de menos de um palmo
Já tinha desistido de ajeitar
Fazia frio, mas ela preferia ignorar
Dava uns trimiliques e deixava pra lá

Sorria pra todo homem que passava
Por dentro pensava “filho da puta”
E continuava a sorrir
Sorria sincero e forçado
Parecia bonita
Mas não adiantava
Tava toda destruída

Tentava não mostrar os olhos
Sabia que não adiantava
Olhar com aqueles olhos
Quem perceberia?
Quem agüentaria encarar?

Não adiantava
Sabia que não
Já nem tentava
Virariam a cara
Sempre viravam a cara

Já desistiu há muito tempo
Dava o último trago
Apagava o cigarro na sola
Levantava com indiferença
E continuava

Um comentário:

Renan Reis disse...

Nossa, incrívek como a sua sensibildiade contetualizou todo um perfil da prostituição como um poema. Você descreveu perfeitamente aqual prostituta que chegou ao fim do poço, onde toma consciência que sua vida a torna uma espécie de maltrapilha, mas ainda assim ela deve continuar de pé e fingindo que não se importa, pois ela tem consciência de estar assim sem poder de escolha, de que ainda exige respeito e dignidade, pois acima de tudo é humana!